(À porta do café, à beira, mais perto talvez do bar, equidistantes entre si.)
O notório Vexame, vestia de calças de ganga e jaqueta negra, e porque no café, se negaram a atendê-lo, estava pior que desfeito. Furioso, com essa chatice — aborrecida e triste — escoiceava com fúria, pensando em vingar com denodo a falta de consideração.
Avistou a esplêndida Zombaria, no outro lado da estrada, acompanhada do ditoso Ludibrio, em descontraída e animada conversa. Foi contar-lhes o caso.
Compreenderam a sua indignação e revolta. Contaram-lhe, em jeito de “não vá daqui…”, o que tinham ouvido ao balcão do bar, há cerca de vinte minutos:
— Andava alguém a fazer telefonemas anónimos, para locais que sabiam de antemão, serem frequentados pelas pessoas “escolhidas”, a difamá-las.
Contava-se também que na Net, corria uma venda da peta organizada, no seu melhor, para pequenas e grandes superfícies, com ou sem catálogo, havendo quem ousasse dizer:
— De todas as maneiras e feitios!
E o Ludibrio assegurou deveras, que certos amigos do amigo, andavam também feitos num oito, por causa de um suposto corte no soldo, concretizado — de mau-humor — pelo inteligente e director da corrida.
As coisas chegaram ao ponto, de o director considerar, que na última operação destinada, a infernizar a vida de um supliciado, houvera grossa incúria dos agentes no insucesso. Uma dupla de operadores, peritos em falsidade adequada às condições — efectivas e talhadas ao contexto adicionado — e condicionadas à medida adequada, dupla essa dizia-se, eficiente.
Imerso na desconfiança sisuda, não se convencia às primeiras que esses dois patifes, não tivessem agido com excesso de confiança, — por que lhe chegara aos ouvidos, — que os ditos tinham dado como certo, o privilégio de na sua qualidade de campeões da perseguição, não serem em caso algum, eles próprios perseguidos. E por causa de tal falta de zelo, o tal supliciado escapara de uma armadilha decisiva, determinante para a continuação da sua tortura.
A dupla espiã, contando receber a comissão desse serviço, já tinham planeado vacances que dadas as circunstâncias tiveram de cancelar.
Corriam também o risco de serem expulsos da ordem da malandragem, se algum escroque invejoso os denunciasse.
A considerar a maneira de remediar a situação, e de a superar com vantagem, foram emparelhados de mão-dada até um casino, diligenciar algum proveito no pano-verde.
O supliciado e maltratado individuo, alvo de tantos bota-abaixo sucessivos, cada um maior e pior que o anterior, tornara-se uma chaga viva, arrastando-se de emprego em emprego, até ao desemprego final. Foi-lhe também tirado o direito, de por obras valorosas, da lei da morte se libertar.
A Zombaria subscreveu tudo o que o Ludibrio dissera, e se não fora quiçá parecer mal, ainda lhe acrescentaria alguma coisa.
Santos Casais da Ferreira